Solstício
Nem sempre
os subúrbios da noite
foram assim tão vazios
e os movimentos dos olhos
assim tão tênues.
Nem sempre nem sempre
os signos da dor
figuraram só brumas
e o sossobrar dos passos
acanharam-se tanto.
Os resíduos do verbo
encenam os tempos da memória
tessitura imaginária
de estranho e familiar desejo.
Nos subúrbios da noite
minha ilusão bordeja
e nas franjas do real
uma fala ébria se alucina
e chacina as alíneas do tempo.
Toda história é sempre
sua invenção
qualquer memória é sempre
um hiato no vazio
E os subúrbios da noite
tecem-se no intervalo dos becos
nas relíquias e ruínas do futuro
nos edifícios da desmemória
que produzem sombras
sob as luminárias.