O escritório da Cobogó fica na simpática Villa Maurina, no Humaitá, no Rio de Janeiro. Foi aqui que recebemos a visita especial do dramaturgo Frank Siera, autor do livro "Ressaca de palavras", da Coleção Dramaturgia Holandesa, que esteve de passagem pela cidade.
Siera é um dos líderes artísticos do Kassett, coletivo de teatro musical holandês. Ele veio ao Brasil para uma residência artística e para o lançamento do livro no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto. O evento teve uma leitura dramática da peça dirigida pela atriz e diretora Cris Larin, tradutora da obra.
Baseada numa história real, "Ressaca de palavras", de Frank Siera, com tradução de Cris Larin, é um dos cinco títulos lançados pela Coleção Dramaturgia Holandesa, que apresenta textos fundamentais do teatro contemporâneo holandês traduzidos por importantes nomes do teatro brasileiro.
Num dia frio e aparentemente insignificante de abril, na pequena cidade balneária britânica de Sheerness, surge um homem vindo do mar. Nada se sabe sobre sua origem. Por meses, a pequena cidade é tomada por esse mistério. Sempre calado, o forasteiro se contenta em tocar piano por horas a fio, despertando a curiosidade de todos. Pouco a pouco se multiplicam as hipóteses dos aldeões sobre ele. Quem é esse homem? Por que não diz nada?
Todo o meu trabalho é baseado em histórias verdadeiras.
"Meu ponto de partida sempre é algo que aconteceu, ou que é uma lenda, ou um mito urbano. E eu sempre procuro a parte da história em que nós não sabemos o que realmente aconteceu, ou em que algo é um mistério. É aí que a minha fantasia entra", diz o autor.
Além dos acontecimentos verdadeiros, as principais inspirações de Siera são a filosofia e a música: "E não apenas a música como algo que foi composto, mas também uma forma musical de escrever, ritmo. Eu acho que a musicalidade é uma parte muito importante dos meus textos".
Não à toa, o ritmo de "Ressaca de palavras" foi um dos aspectos que que mais chamaram a atenção de Cris Larin durante a sua primeira leitura da obra. "Essa também foi a minha maior preocupação na tradução. Que quando eu transpusesse pro português, que o texto não perdesse essa cadência, esse ritmo, essa musicalidade, essa poesia, essa beleza que eu achei tão marcante na escrita do Frank", contou a atriz e diretora, que trabalhou a partir de diferentes traduções da peça e teve a colaboração de Mariângela Guimarães, tradutora do holandês.
Na visão de Cris Larin, a leitura traz a sensação de se estar em Sheerness, em meio à multidão que faz perguntas sobre o pianista. Para ela, no entanto, a história não se limita ao seu cenário original: "Eu acho que esse homem misterioso poderia aparecer em qualquer lugar do mundo, em qualquer praia do mundo. Eu até gostaria que ele aparecesse, de repente, aqui, no Rio de Janeiro, na Urca, ali na Praia Vermelha".
Além de "Ressaca de palavras", compõem a Coleção Dramaturgia Holandesa: "A nação", de Eric de Vroedt, traduzido por Newton Moreno; "No canal à esquerda", de Alex van Warmerdam, traduzido por Giovana Soar; "Planeta Tudo", de Esther Gerritsen, traduzido por Ivam Cabral e Rodolfo García Vásquez e "Eu não vou fazer Medeia", de Magne van den Berg, traduzido por Jonathan Andrade.